A lua depois do gravador

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

terça-feira, agosto 30, 2005

Porto solidão

Por muito tempo você se sentiu culpada, deu a ele o dinheiro da passagem para ir até ali, logo ali, mas ele foi mais longe e não voltou, levaram ele para lá e para cá, ficou todo mundo esperando junto na madrugada, ele não veio, ele não era desse mundo, ele nunca fora desse mundo, desde pequeno aquele ar nostálgico, aquele semblante melancólico, olhando para todos de outro plano, aquele prazer por músicas que não lhe convinham na idade, nunca, o jeito engraçado de falar errado, um quê de mistério apaixonante. Você não tem mais culpa. Você tem saudades.

quarta-feira, agosto 24, 2005

A sogra

Você estava de boca aberta no meio do corredor, as pessoas que passavam de uma sala para outra não entendiam nada, você ficou louco, era a única coisa que você conseguia falar, uma pergunta que você fazia também a si mesma. Ele dizia que se lembrava de cada diálogo, desde o primeiro, qualquer coisa banal naquele mesmo corredor, provavelmente um bom dia mais alegre do que o normal, típico seu, talvez tenha sido mal interpretada, mas ele ficou completamente apaixonado. Você não queria mais ouvir, um triângulo platônico possivelmente quadrilátero quem sabe uma pirâmide enlouquecida. Ele dizia, sonho com você sempre, ele contava, até minha mãe sabe tudo da sua vida, você mal conseguia falar, você não tem medo, você perguntou, medo de se machucar, ele riu, eu não sou mulher pra você. Minha mãe falou que você é muita mulher pra mim, ele disse, mas não estou preocupado com isso não.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Seven up

Você cismou com o cara, ele não tinha nada a ver com você, uma burguesona que trabalhava por hobby enquanto não encontrava um marido, mas como estava ali para se divertir cismou de comer o cara, um broncão que começava a se lapidar, tinha arranjado um cargo melhor e convivia com pessoas e freqüentava lugares que ele não sabia que existiam. Mas ele tinha mulher e filhos e você cismou com aquele suburbano cheio de marra. Você se jogou por cima dele, no trabalho todo mundo via e calava, você se debruçava de decote e minivestido, ele não dizia nada. Um dia ele quis te comer enquanto a mulher dormia no quarto ao lado, você riu e fugiu, depois disse que fodeu com ele sete vezes seguidas, todo mundo acreditou, ele jurava que nunca havia olhado pra você. Você ficou famosa, ele ficou famoso em todos os corredores.

segunda-feira, agosto 15, 2005

Hora do adeus

Ele vai embora amanhã, ele vai te abandonar, ele disse que vai ali e já volta, mas você está escolada, não acredita, como é viver assim, insegura e humilhada, você é capaz de ligar, ficar questionando outros, checando horários, é capaz de sair pelas ruas atrás dele com o filho no colo, correr pra sua mãe na madrugada e confessar às paredes, aos vizinhos, aos céus que é traída, insegura, humilhada e vai ser abandonada, é capaz de estar se fazendo de vítima quando no fundo está sendo ridicularizada.

segunda-feira, agosto 08, 2005

Felicidade verdadeira

Os anos passam depressa, é verdade. Ontem você se fantasiava de índio com as primas na matinê do baile de carnaval, hoje é sua filha quem rola saborosamente pelos brinquedos com as outras crianças. É um revival, ela é a sua cara, de trancinhas e mais moreninha, uma saudação à liberdade, à maturidade, ao amor. Você que vivia de lembranças hoje pode sorrir de felicidade.