A lua depois do gravador

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segunda-feira, janeiro 31, 2005

Programa infantil

Você estava na piscina com a sua filha quando ele chegou com a filha dele, as duas amiguinhas combinaram de brincar, você não achou ele nada de mais, não era o seu tipo, você não queria se envolver, você só queria tomar banho de sol, mas ele começou a falar com você, ele abriu um sorriso lindo, ele ouviu você falar de coisas que não dizia pra ninguém, você nunca se sentiu tão descontraída, tão espontânea, tão feliz, vocês combinaram um teatro infantil para o domingo, não era do jeito que você sonhava mas era do jeito que você queria, sua filha trouxe um sorvete de uva, você lambeu achando a coisa mais deliciosa do mundo.

sábado, janeiro 29, 2005

Mel puro

Ele pegou uma carona com você, vocês só iam embora pra casa mas ele disse que tinha fome, vocês pararam para comer uma pizza, e depois da pizza ele disse que queria ficar com você até o dia seguinte, você levou ele pro motel, você pediu para ele tirar a roupa e ficou sentada na cama, olhando pra ele como se ele fosse um brinquedo importado, uma surpresa inesperada fora do aniversário, ele era ainda mais lindo sem roupa e de pau duro, você falou, deixa eu ver se você é também gostoso, ele chegou perto e você fez um estrago, você chupou ele todo, ele ficou tremendo na sua boca, achou engraçado você engolir o gozo dele, você disse que parecia mel, ele deitou em cima de você e foi te beijando, vocês não se desgrudaram mais, e no outro dia ele disse, quero você de novo, não paro de pensar no que aconteceu, você disse, ensina pra sua namorada, ele riu, não tem graça, só quero fazer assim com você.

sexta-feira, janeiro 28, 2005

Surfista prateado

Você escreveu sobre um intelectual que pegava onda e trabalhava com música, era obra de ficção, coisa da sua cabeça, mas um dia ele apareceu e disse, eu sou o cara da sua história, o intelectual que pega onda e trabalha com música e que acha você linda, você ficou olhando pra ele e rindo e disse, e aí, isso é uma cantada, perguntou, e ele falou, seria uma honra, você não entendeu, ele continuou, te dar uma cantada, você respondeu que qualquer um pode dar uma cantada, então vamos sair, ele falou de repente, você ficou pensando se valia a pena, um intelectual que pegava onda e trabalhava com música, isso não podia existir de verdade.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

Ou isto ou aquilo

Sua vida não tem jeito, um dia você está nervosa, no outro medita de azul e branco, um dia enche a cara de vinho, no outro bebe água vibrada, um dia você come hambúrguer, depois fica no arroz integral com inhame, um dia você tem três filhos, no outro está largada no mundo. Sua vida parece um poema modernista, noutro dia é cubista, você escreve um romance, depois cansa e fala no rádio, um dia você pode tudo, no outro chora até desmaiar, um dia você tem problemas, no outro você se derrete ao sol. Seu carro anda sujo e batido, você usa sapatos de seda e cristal, você acha esquisito mas gosta, queria andar de porsche toda de rosa, você se acha cada vez mais bonita, mais madura, ninguém acredita.

terça-feira, janeiro 25, 2005

Nostalgia

Naquela época ainda não havia e-mail, nem mesmo aqueles computadores jurássicos com telinha escura e letrinha verde andavam espalhados pelos escritórios. Você ainda não podia se comunicar virtualmente no meio da tarde por trás das máquinas com sorrisos maliciosos. Naquela época vocês usavam máquina de escrever, não dava para se esconder por trás delas, vocês eram exímios datilógrafos e entregadores rápidos de correspondência. As folhas iam e vinham como num serviço de entrega expressa. Vocês eram os motoboys do desejo, vocês escreviam poesia em uma linha ou duas, vocês riam à toa, vocês eram cheios de sonhos, vocês não podiam imaginar que passaria tão rápido.

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Alívio

Você começou a pensar em coisas libidinosas, aquelas fantasias que você não ousa confessar nem a seu maior cúmplice. Você não agüentava mais e pediu ao segurança licença para usar o banheiro da loja, você entrou para se masturbar, estava tão louca e foi tudo tão louco que deu um jeito no braço, ficou com cara de boba depois do orgasmo, doía e era delicioso. Você se esforçou para levantar, pegou a bolsa e lavou as mãos, lavou só um pouquinho, ficou com o gozo na pele, no corpo todo. Você saiu como se nada tivesse acontecido, o segurança abriu a porta, você ficou descansada.

domingo, janeiro 23, 2005

Nas mãos

Você colocou o vestido cinza comportado, o sapato cinza, estava chique e sóbria, respeitável porém muito diferente, mas então entrou na sala para a reunião e lá estava ele, tantos anos depois mas o mesmo sorriso sacana, o mesmo olhar apaixonado, era ele, o homem da moto, agora um diretor de multinacional, o homem que era capaz de decidir seu destino, tanto tempo depois de você decidir o dele, tanto tempo depois de você dizer sim e em seguida dizer não. Ele sorriu discreto, responsável, era cabível. Mas depois você foi tomar café e ele foi atrás, te abraçar com saudades e recordar um pouco do que foram aqueles dias felizes. Estar nas mãos dele agora não faz mais sentido: você é uma senhora safada, ele um homem bem-sucedido.

sábado, janeiro 22, 2005

Amor com galinha

Você ouviu alguém dizer, deixe esse aí que ele já está morto, você não acreditou, foi lá conferir, não ia perder o marido desse jeito, num acidente banal no qual vocês eram carona, ele estava respirando e se mexeu, você gritou por socorro, ele estava todo fodido mas sobreviveu, vocês eram recém-casados, você estava apaixonada, separava o melhor pedaço da galinha para ele, não ia perdê-lo na estrada, embora ele gostasse do perigo, embora você tivesse que implorar para ele te dar o volante nos momentos críticos, embora ele já tivesse aberto a porta pra você saltar no acostamento da estrada após várias discussões, no fundo você gostava, ele ia guardar o carro na garagem e cochilava no carro, só acordava porque você pedia pro porteiro ir ver o que estava acontecendo. Um dia ele bateu em três árvores, ficou inteirinho, sem um arranhão, dormindo em pé encostado ao que sobrou do veículo enquanto aguardava o reboque. Mas nessa época vocês mal se falavam, você não estava por perto, nunca mais galinha assada.

sexta-feira, janeiro 21, 2005

O tempo não pára

Você não perde tempo enquanto fica parada pensando, afinal precisa, seu mundo está caindo porque você não tem tempo pra nada, o tempo que é igual pra todo mundo, mas pra você falta organização, falta prioridade, falta opção. Você corre pra lá e pra cá e não consegue planejar sua vida, o caos em forma de bola de neve, todos te cobram uma posição e mais paciência, você sabe que precisa, mas não sabe por onde começar. Então agora enquanto espera imóvel numa escrivaninha sem poder abrir o livro ou ligar o celular você pensa e escreve porque pensa melhor quando escreve, as burradas no papel ficam completamente visíveis, você tem vontade de chorar mas não pode, tem platéia por aqui, é capaz de ser internada. Você procura uma saída, você precisa mudar.

quinta-feira, janeiro 20, 2005

Banho de ervas

Alguém falou e você acreditou, ficou doente por ouvir qualquer bobagem, pensar que se pode manipular os outros assim sem que já haja uma predisposição para a infelicidade. Para você não há o que está escrito, você acredita no que dizem por aí, que uma pessoa pode desejar coisas ruins e fazer acontecer num passe de mágica, sem motivo, sem ação, sem sentido. Você alerta os outros com fatos absurdos, eles começam a temer pela vida, jogam coisas no lixo, procuram porquês no meio do nada, inventam dores que não existem. Não há banho que resista, você quer ser frágil, você precisa ficar sozinha, você quer os outros do seu lado. Ninguém pode explicar, você está em outro estágio, ainda não superou os primeiros passos de quem quer mais do que ser alguém na vida.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Vizinhos

Vocês eram amigas, comadres, foram morar no mesmo andar para deixar as portas abertas e viver como se estivessem habitando um único imóvel, resolveram tantas coisas juntas, eram unha e carne. Um dia tudo mudou, foi por causa do vizinho, ele chegou na reunião oferecendo ajuda, vocês acharam bom, depois acharam ótimo, depois uma delícia, mas ele achou sua amiga sua irmã sua confidente mais delícia ainda. Até hoje você não sabe se rolou, o que rolou, se foi namoro ou amizade. Você não se conformou, tramou pelas costas, fechou a porta e colocou grade no meio do corredor, só não se mudou para não deixar o caminho livre de vez. Vocês duas mal se falam. Você só tem tempo de se dirigir a ele, de dar bom dia e pedir ajuda com as compras.

terça-feira, janeiro 18, 2005

Strip-tease

Vocês só haviam transado no banheiro. A primeira vez foi durante o intervalo de leitura do texto, você saiu do banheiro feminino e ele te empurrou de volta, você ficou de camiseta e sandálias, transpirou tanto que teve que molhar os cabelos na pia e prendê-los com uma caneta para voltar à sala de reuniões. A segunda vez foi na estréia, então ele te carregou para o banheiro masculino do teatro, você ficou admirada como ele era incrivelmente limpo e cheiroso, diferente dos toaletes femininos sempre alagados e infectos, vocês treparam em cima do vaso, ele não tirou o smoking, você levantou a saia longa, ele era uma delícia e você queria mais, queria ver o corpo daquele homem, sentir o cheiro dos pêlos, o gosto do sexo. Então vocês combinaram de se ver no hotel depois da festa, quando você chegou ele estava lá na recepção, fumando, vocês subiram e, ao contrário do esperado, vocês não saíram se pegando no elevador, ele segurou seu rosto entre as mãos com toda a delicadeza, te beijou muito muito, você sorriu, e no quarto vocês foram tirando cada peça de roupa, um de cada vez, como numa disputa, ele também delirava em poder enfim ver você nua, ele ficou louco, você ficou louca com aquele strip-tease cheio de poesia.

sábado, janeiro 15, 2005

Você é mãe

Você sabe que há mais aprendizado e descobertas do que prazeres, afinal, planejou tudo. Planejou o dia, planejou o sexo, planejou o parceiro. As transformações, porém, vêm em avalanche. Você lê tudo sobre o assunto mas a teoria é bem diferente da prática. Você escreve um diário, você aprende a esperar, você chora. Tenta não atropelar o destino e disfarça, disfarça até pra você mesma. A barriga cresce, o peito cresce, o amor cresce. Você continua a correr, está cansada, não quer mais dirigir, as lágrimas rolam ao som de noel rosa. Você se sente corajosa porque não está mais sozinha. Ainda é meio complicado, sua vida é dela, seu endereço é provisório, você vive meio easy rider e quem quiser que te acompanhe. Ela mexe dentro de você e isso é tudo o que você queria.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Louco amor

O encontro foi previsível, vocês se admiravam e pessoalmente se encantaram um com o outro, a conversa foi mágica, a noite ficou subitamente extraordinária. No dia seguinte, tomando café, você fez a pergunta típica, você é casado, ele riu, não é por nada, você continuou, só quero ver onde estou pisando. Foi o que você disse, mas na verdade pensou, quero saber se é para eu me apaixonar ou para ir embora depois do banho. Ele disse sim, sou casado, mas não deixo de viver nada do que vem para mim, a vida é muito curta. Você lembrou que ele era um hippie fora do seu tempo, combinava com essas teorias de amor livre casamento aberto e tudo o mais já visto e passado. E a sua mulher, você perguntou, também vive tudo o que vem para ela, quer dizer, você não se importa. Você estava desconfiada, aquele papo era para comer uma mulher já escolada como você sem que você se sentisse muito enrolada. Então ele respondeu, nós temos o mesmo sobrenome, o mesmo endereço e os mesmos filhos, mas a conta bancária, o carro, os sentimentos, cada um tem os seus. Você gostou do que ouviu, já eram dez da manhã, o sol brilhava como nunca.

Passeio no rio

O dia começa bem. Após uma tranqüila noite de amor, uma pequena briga para estimular o fim de semana, mas depois de uma xícara de café bem quente você toma um táxi e começa a curtir o rio de janelas abertas. Seu trabalho às vezes é um alívio, um colírio, um deleite, você pega o caminho mais longo, nada como um dia de sol para ver as pessoas mais felizes, como se não houvessem brigas, tiros, guerras urbanas. Os carros se movimentam devagar, em silêncio, num ritmo de feriado, você nota que um rapaz coloca um saco de balas no retrovisor, quer ajudar mas o sinal abre, hoje os sinais estão incrivelmente rápidos, logo hoje que você quer curtir tudo com calma. Os cariocas não esperam, você quer ser solidária, tem vontade de entrar em uma igreja, está tão zen, olha pros lados e curte a lagoa, lembra que no alto tem o Cristo, você agradece, afinal o rio é uma igreja a céu aberto, com paz, beleza e energia da natureza. Tem vontade de ficar ali, tirar os sapatos e caminhar pela orla, ligar para velhos amigos. Uma névoa fina deixa a paisagem difusa, os morros parecem estar por trás de cortinas brancas de voile. Você começa um novo livro, parece que é uma nova vida chegando, parece que tudo fica diferente.

quarta-feira, janeiro 12, 2005

Por enquanto

Ele pediu dinheiro emprestado, largou tudo e foi atrás de você, atrás de uma aventura, atrás de um romance que pudesse trazer uma reviravolta à vidinha sem paixão e sem ambição à qual ele se propunha ter. Você o levou até o farol, ele não entendeu como o mar pode ser fundo e as águas tão agitadas batendo nas pedras, não entendeu que a solidão também pode ser bela, a solidão de estar no farol, por trás da escuridão. Mesmo assim você quis ver como seria, como ele seria, um pseudo-intelectual-boêmio-descasado, você acreditou no cartão de visita e apagou as luzes para ver as estrelas, mas na hora ficou procurando, você ficou procurando por muito tempo

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Sem escolhas

Você era a protegida do grande escritor, nas horas vagas entre a leitura e a datilografia você corria pro outro, com quem ouvia música e escrevia poesia. Vocês estavam em outra dimensão. Uma hora você era musa, na outra amante proibida. Você estava nas páginas de um romance premiado, estava nos versos de um poema inacabado. Não podia dar certo: dois homens escondidos, um casado, outro indivisível; um insensível, outro emprestado. Você ficou em dúvida, ou isto ou aquilo, você não tinha mais o que querer.

sábado, janeiro 08, 2005

Construção

Ele ligou e você não acreditou, eu quero te ver quero te conhecer, o que você vai fazer agora, ele disse. Você pensou, estou dormindo, mas disse, não sei acabei de tomar café. E pensou, pode vir aqui, onde você está, perguntou. Ele disse, vou te ligar daqui a pouco, você pensou, ele vai embora para sempre, todos vão embora para sempre. Tomou um chá pra se acalmar mas ele ligou, ele ligou de verdade, ele disse, estou aí perto te pego na pracinha daqui a quinze minutos. Você não conseguia se vestir, nada ficava bom, acabou saindo de qualquer jeito, se sentindo horrorosa, mas ele sorriu quando te viu, disse que estava construindo uma casa, disse que queria te levar lá, te levar pra conhecer a casa onde ele ia morar com outra, te mostrar a sala a cozinha o quarto onde ele ia trepar com outra, te contar como ia ser o jardim, te explicar que estava usando material de demolição, te confessar que seu melhor amigo era seu vizinho, ali ao lado onde não havia nada só mato. Ele estava feliz, você estava em pânico, ele te levou pra lanchar no carro, ele disse para você ler um livro espírita, disse que estava lendo um livro sobre vampiros. Ele te deixou na praça ele te deixou.

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Fraldas descartáveis

Você ligou para ele e disse, tô grávida, ele riu e riu muito e chorou, depois pegou um vôo e atravessou metade do mundo para ver a sua barriga, ele achou inacreditável, incrível, ele teve vontade de fazer as pazes com o pai, ele te beijou como nunca.
Você ligou para ele e disse, tô grávida, ele ficou mudo, ele ficou gago, disse que era impossível mas achou o máximo, ia ser pai, ele foi encher a cara com os amigos, e você dançou, dançou como louca, sozinha no meio do mundo.
Você ligou para ele e disse, tô grávida, ele deu um soco na parede, ele se sentiu um grande macho, ele guardou segredo, depois convidou o vizinho para ser o padrinho, você ficou entediada e acabou com a conversa antes que ela desse em nada.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Dias seguintes

Vocês custaram a se encontrar, primeiro ele estava disponível e você ia casar, depois você estava sozinha e ele cheio de namoradas. Mas então você soube que dava pé, era aniversário dele, você ficou sem jeito de ir à festa mas ele mesmo foi te buscar, vocês começaram a trepar ainda na sua casa e terminaram no fim da festa, você não lembra da metade, acordou leve, diferente, e depois passou o resto do mês desesperada, contando 28 dias a cada dia.

Primos

Então ele é seu primo. Você sabe que ele está em crise, levou um par de chifres da noiva, a noivinha de família, a virgenzinha, e então se envolveu com uma mulher mais velha, e você está disponível nessa cidade que mal conhece. Ele te leva pra jantar no melhor restaurante e depois não tem ninguém em casa, a mãe dele foi ser babá da netinha, ele te agarra no elevador com aquela cara de safado, ele está de pau duro e te beija muito toda. Então quer dormir com você na cama dela, mas a irmã já está lá vendo televisão debaixo das cobertas, ele diz, amanhã. Você tem câimbras, fica nervosa.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Belle de jour

Ele diz que você deveria largar sua carreira e fazer shiatsu. Você, shiatsuterapeuta. Parece piada mas ele fala sério. Ele não tem noção de nada, nem te conhece, afinal para ele você é a belle de jour, aquela que chega de repente e precisa sair cedo, uma catherine deneuve tropical, indecisa e louca. Ele é tão zen, você tão elétrica, ele é alto, você é baixa, ele tem um escritório numa cobertura de frente pro mar de copacabana, você ainda não se situa em nada, ele está grisalho, você cheia de celulite, ele ri, você olha de lado, ele come o sushi, você quer uma água. Mas ele te delicia como mulher de verdade.

domingo, janeiro 02, 2005

Três amigas

Ela diz, duvido, você diz, eu posso, e à noite você se tranca no quarto com a outra, ela pula a varanda e fica na fresta da porta tentando ver ouvir acreditar. Você está assustada e a outra está nervosa, você tira a roupa vocês se abraçam, parece mentira mas você goza. Na praia não tem sol, mas vocês fazem topless perto do barco e ela ouve e ri, é mentira, ela diz, ela fica excitada, ela também quer mas não tem coragem.

sábado, janeiro 01, 2005

Estrangeira

As pessoas já perceberam que você não é dessa cidade, você caminha olhando para os lados, acha lindo os jardins floridos e bem cuidados, as mulheres superchiques por conta dos longos casacos, em cada esquina um policial sobre um tablado. Uma cidade grande com mais gente do que carros. O silêncio na rua é uma surpresa, é música para quem vive sob fogo cruzado. Fica pensando em como cada lugar pode ser tão diferente embora tão próximo, a língua os une e os separa, você fica com vontade de sentar em um café e escrever, fica com vontade de passar mais dias nesse lugar que é a sua cara, tão cosmopolita e tão simples. As pessoas te param na rua, você tem cara de quem ouve e ajuda, sente vontade de comer uma fatia de torta e beber uma xícara de chocolate, você se sente meio perdida, como se estivesse infinitamente longe de casa.