A lua depois do gravador

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

quinta-feira, setembro 22, 2005

Fim de tarde leonino

Descortinar a paisagem, ser lambida pelo sol, o vento nos cabelos, imagens banalizadas pela literatura mas que, longe do papel e vividas com êxtase e doçura, são sempre inesquecíveis. Você pode dizer, sim, eu estou aqui, a cidade diante de mim, os prédios supermodernos onde os empresários fazem dinheiro não são nada perto desse céu, desse verde, dessa água tão linda que ninguém diz que não dá para ser deliciada, de tão poluída. O cenário agora te ilumina toda, seus cabelos voam pelo rosto e você agradece por ainda não tê-los cortado, porque você não resiste a uma tesoura, e agradece por estar enfim cuidando deles como merecem, batem cheirosos e suaves na sua pele. Você tem vontade de gritar e sair correndo mas não pode, corre o risco de ser demitida, fica sentada no meio-fio olhando feito boba pro sol do rio, só o sol do rio, e mesmo assim as pessoas que cruzam os prédios estranham, alguém ficar ao sol e não dentro do ar condicionado. Você sabe que te acham uma maluca e adora, estica as pernas e tira os óculos. Começa a transpirar e se sente ainda mais forte e bonita.

domingo, setembro 18, 2005

Vivendo e aprendendo

Você o seguiu e ele entrou num bar gay, então você acreditou, já estava desconfiada e não teve nenhuma reação histérica quando ele enfim confessou, ele estava com um cara que você conhecia, um cara que também não era gay, pra você ele não era gay, nem um nem outro. Eles estavam vivendo um romance, um namoro que começara como qualquer relacionamento em que um quer e o outro tem dúvidas, ele disse que ficou puto ao mesmo tempo excitado quando o amigo lhe contou o que realmente pensava dele, então ele fugiu, depois voltou, foi beber cerveja e ouvir rock no apartamento dele, sentiu nojo quando ele pegou no seu pau mas gostou, depois voltou, deixou que ele o beijasse, voltou de novo, e logo estavam juntos como um casal. Você não deu uma palavra mas teve vontade de abraçá-lo, saiu do bar e ficou caminhando pelo calçadão, rindo alto, com vontade de gritar para as estrelas do céu, livre do tempo em que não sabia lidar com suas paixões, de quando ainda não sabia seduzir, de quando achava que podia tudo e desafiava a vida mas não era de nada.

terça-feira, setembro 13, 2005

Escritura

Você ficou maluca, porque ele não resolvia nada, porque ele te comia no banheiro e depois te ignorava. Você então ficou horas conversando com um homem maravilhoso, mais velho mais famoso mais rico do que ele, ele ficou louco, te pegou no meio do salão e disse que você era dele, você falou, você está com ciúmes, ele disse que o nome dele estava escrito no seu corpo, que o seu nome estava escrito no dele, você achou engraçado, aquele homem que um dia te amava alucinado e no outro reforçava sua solteirice convicta. Você quer viver com ele casar e ter um monte de filhos, ele também quer mas finge que nunca, que vai continuar um garanhão perdido na cidade iluminada e cheia de possibilidades vazias. Tudo parece meio inexpressivo, viver uma história assim é bom, poder passar o dia sem almoçar ou jantar, sem saber se faz sol ou chuva, mas agora você quer compromisso.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Free

Caminhando entre as pistas de uma avenida no centro da cidade na hora do rush você se sente poderosa absoluta feliz, os carros não te perturbam, você pode ver como a cidade é linda no fim de tarde, vários morros diante de você, os bondinhos num vaivém silencioso e tranqüilo, você agradece por estar ali, por poder ver a beleza de tudo o que se move ao seu redor, por poder sair de um escritório e ter tempo para pensar no que fazer, sem pressa, você pode escolher entre recordar, imaginar ou viver, escolhe os três porque é assim que tem prazer, é assim que enfrenta mais uma vez o imprevisível.

sexta-feira, setembro 02, 2005

Cotidiano

Alguma coisa mudou, você não sabe onde nem como, só sabe que o sexo ficou burocrático, que os carinhos escassearam, que você às vezes gosta que ele saia mais cedo e volte mais tarde. Você ainda o ama mas agora é diferente, o tesão é diferente, a paixão é diferente, nada de ficar trepando pelos cantos da casa até que o corpo não agüente mais, nada de bilhetinhos românticos ou indecorosos. A poesia acabou. Você ainda não sabe se o que ficou vale a pena. O que chamam de amizade, companheirismo e outros sentimentos nobres porém nada estimulantes nunca fizeram parte dos seus sonhos assim, sozinhos, sem aquele momento, pendurada no lustre com champanhe e cinta-liga.