A lua depois do gravador

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

quarta-feira, junho 29, 2005

Mal entendidos

Você escreveu um poema sobre algo muito particular seu que coincidiu com o de uma amiga que ficou magoada. Os amigos dela também ficaram contra achando que você a sacaneava e essa história nunca foi bem resolvida. Você perdeu os amigos, os três, e fica triste quando lembra mas não quer se explicar. Também quem mandou julgarem a história sem ao menos falar com você. Você até hoje não entende porque interpretaram a coisa dessa forma. Também quem mandou.

quarta-feira, junho 22, 2005

O buquê

Alguém atendeu ao telefonema e avisou bem alto, ela recebeu flores. O tempo parou por alguns minutos enquanto você descia lentamente as escadas para buscar o buquê, um lindo buquê de lírios, de delicados lírios, um buquê escandaloso, do qual você tinha medo, tinha medo de chegar perto. Então queriam saber o remetente. Mas você não ousava como ela ousava, não ia dizer, você sabia batalhar pelo que queria, por quem queria, mas estava desconcertada, ainda não entendia como uma mulher podia cantar outra assim na frente de todo mundo como faz um homem, mandar flores com um cartão e ainda por cima ligar querendo preparar um jantar especial, ela própria ao fogão, querendo pegar pelo estômago como faziam as nossas avós. Você gostou, ela era linda e escancarada e você se sentia o máximo, mas não estava preparada, ela estava apaixonada.

quinta-feira, junho 16, 2005

Reencontro

A separação fez bem a vocês. Ambos estão mais bonitos, modernos, luminosos. Menos tensos. Ele, todo tatuado, cheio de brincos. Você, de saia curtíssima, cabelos mais claros. Vocês se sentem logo íntimos de novo, como se não tivessem passado tantos anos, como se fossem grandes amigos que tivessem se despedido ontem. Somos cúmplices, você pensa. Ela sempre vai ser minha, ele imagina. Vocês se enchem de sushi e nada de álcool. Em outra fase, o cardápio adequado seria composto de cerveja e um monte de bolinhos de bacalhau. Tudo é a mídia, ele está nas rádios, você está nas bancas. Vocês viveram tantas coisas que parece mentira serem ainda tão jovens. Na rua, caminham lado a lado, sorriem. Quem vê não sabe, mas já saíram até na porrada.

domingo, junho 12, 2005

Entre panelas

Ele destruía corações, destruiu sete carros estacionados quando fez a curva completamente calibrado, era sempre perdoado, até quem implicava com seu jeito por demais desprendido acabava seduzido. Como você, que um dia o odiava e dois minutos depois estava em seus braços no meio da calçada diante de todo mundo, enquanto organizavam onde iriam terminar a noite. Aí ficou fácil, ele era doido mas não a ponto de trocar mulher por pó, ele te levou para uma cozinha fechada, o lugar onde ele sabia seduzir uma mulher de várias maneiras, começando por uma bela calda.

quinta-feira, junho 09, 2005

A esposa

Ele ficou te sacaneando, você foi dormir depois de dispensar o homem que já fez a cabeça de todas as mulheres brasileiras, ele ficou te sacaneando até de manhã, ele estava mais velho e mais gordo mas ainda conservava o fogo o delírio a força e a delícia daqueles tempos, daqueles anos de chumbo e de inocentes pornochanchadas, onde ele fazia os personagens mais sacanas e gostosos, você não acreditou mas ele estava ali, perfume pra iemanjá nas suas mãos, você dançou com ele e considerou a idéia mas a culpa foi mais forte, não passou de uns beijos e você não dormiu com ele, foi uma pena não aproveitar aquele ícone do cinema brasileiro ali ao vivo em cores carnes e bocas mas você resistiu, a esposa virtuosa preferiu ligar pra casa com saudades, depois ficou fugindo o resto da viagem.