A lua depois do gravador

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

sábado, abril 29, 2006

Rebeldes sem causa

Ela disse, meu irmão tem um amiguinho que é uma graça e vive atrás de mim e fico com vontade de comê-lo, ele é uma criança mas você vai gostar. E você gostou e resolveu que ia sim, e lá estavam vocês rodando pelo alto em busca do que nunca poderiam ser, o casal improvável dentro de um fiat verde metálico, rebeldes sem causa à beira de um abismo sentimental, a pré-intelectualizada e o adolescente precoce. Até que um dia o sonho partido, a década perdida, o mundo irrealizado. Vocês choram diante da tevê e no ano seguinte ele já tinha o primeiro filho.

quinta-feira, abril 20, 2006

Sem óculos

Você andava sem prestar muita atenção à cidade a sua volta, quando foi reparar chico buarque estava a seu lado de bicicleta aguardando o sinal, por um segundo você achou que estivesse no céu, num sonho, você ficou confusa, muitas pessoas passando correndo como um borrão, você esqueceu os óculos, é uma delícia andar assim, é um outro mundo, uma nova forma de vê-lo e vivê-lo, não deixa de ter seu charme, o cara na bicicleta lembra o médico que te engessou, quando você disse que ia dormir e foi a uma festa escondida do seu namorado e acabou quebrando a perna, teve um quebra-quebra e a confusão foi parar na TV, você quase foi parar na TV, depois teve que inventar uma história maluca, uma desculpa ridícula como a que um homem inventa quando é pego no orelhão no meio da madrugada, os fogos no morro anunciam uma grande festa, é hora de ir pra casa, o barulho dos fogos se transformam na melodia de melancia nervosa, o som aumenta de volume, você começa a ver tudo embaralhado.

quinta-feira, abril 13, 2006

Culpa e vergonha

Ele abriu a porta e você entrou, daquele jeito que você andava, de camisetão comprido feito um vestido e mais nada, e os óculos escuros que você pensava disfarçar a culpa e a vergonha, muita culpa e um pouco de vergonha. Você olhou rápido pela sala de espera e, engraçado, todas as mulheres usavam óculos escuros, talvez porque também tivessem um pouco de culpa e vergonha. Mas lá dentro o clima era outro, longe dos maridos e despidas dos óculos não havia porque ter culpa e vergonha. As conversas tinham o tom de um salão de beleza, só que em vez de comentarem sobre o último namorado de alguma famosa, falavam do erro que as deixara ali. Beijinhos, abraços, risinhos. Amigas de infância. Você, um peixe fora d’água que queria se afogar. Foram dias tristes, dias sem sonhos. Passou.

sábado, abril 08, 2006

Baixo Leblon

Você e suas amigas estavam paradas na calçada, já era tarde para vocês, três adolescentes esperando a carona do papai, mas em ipanema a noite estava apenas começando e então ele passou a pé com um amigo, um cantor de sucesso louco e lindo do jeito que você gostava, e ele te deu um beijo, disse, você é linda, e vocês três acharam graça, ele te chamou para ir ao leblon, fácil como tomar um sorvete às cinco da tarde na saens peña, você ficou com medo e excitada, o baixo era um mito, um lugar mágico, um antro para sua mãe, um antro de malucos, você adorava os malucos, você também era um deles embora ninguém soubesse, mas aos treze anos só restava esperar pela carona do papai.